sábado, 18 de setembro de 2010

Aviação de uso restrito.

Aviação experimental.
Faz 104 anos que o 14 Bis voou. Em 23 de Outubro de 1906. Portanto há 104 anos, a aviação, toda ela, era experimental. De 1906 ate a primeira grande guerra pode-se dizer que a aviação era fruto direto de experimentos, fosse à mecânica, fosse à técnica construtiva, no desenho de fuselagens e na aerodinâmica, na navegação, na comunicação e nas regras de segurança do vôo. Tudo era aceito e tudo era festejado como avanço. Milhares de inventores amadores criaram inúmeros avanços para a futura aviação geral. Que festa. Que simplicidade, que otimismo.

Mas os senhores devem saber que o transporte sempre foi fonte de riqueza para algumas nações. Assim, a navegação marítima determinou a expansão e enriquecimento de inúmeras nações. Com a aviação não foi diferente. Após a primeira grande guerra, voar significou a primeira visão de conjunto, a primeira panorâmica do espaço habitável, e também a primeira conscientização do perigo que significava a liberdade de se viajar pelos ares em termos militares. Regras, muitas regras de direito internacional, à principio militares e a seguir comerciais. Ora, aquilo que era para normatizar o uso do espaço aéreo, passou com o tempo a ser reserva de mercado comercial, onde as normas não mais visavam à segurança militar das nações, e o uso do espaço aéreo, mas agora restringia e dificultava o surgimento de aeronaves experimentais, de companhias aéreas, da formação de pilotos, tudo em nome da segurança escondendo o controle do mercado de fabricação, venda e uso comercial de aeronaves. Formaram-se grandes trustes “globais” a fiscalizar e frustrar o aparecimento de inventos, experimentos, novos conceitos, e novas indústrias. O conceito de homologação de aeronaves é um inibidor flagrante à iniciativa criativa dos inventores em todo o mundo. Os custos de homologação de aeronaves é proibitiva se não mortal para qualquer projeto. Os que ousam construí-las ficam amarrados ao uso restrito e não comercial, e estão sujeitos a uma burocracia que via de regra inviabiliza os projetos e seus aperfeiçoamentos. Fosse assim ao inicio e nós não conheceríamos a aviação.

A segurança do vôo, embora exista, é apenas um apelo emocional para que os que sonham voar se resignem ao fracasso. No Brasil, por exemplo, o transito em terra mata perto de 40.000 pessoas todos os anos, e não se usa esse tipo de argumento para restringir o uso de automóveis, embora hoje, por lei, se restrinja as modificações e customizações de veículos, frustrando mais uma vêz milhares de talentos mecânicos, como se, só as grandes montadoras pudessem desenvolver projetos. Tudo reserva de mercado.

O Brasil se aspira por independência comercial e econômica, deve liberar, ou readequar a sua aviação experimental na forma da lei, de modo que o inventor brasileiro possa investir em seus projetos, desenvolve-los, voá-los e comercializá-los.

Ora, os aviões J 3, por exemplo, que ainda voam, e que foram construídos em 1937, são tão simples como um ultraleve de hoje, e é preciso reconhecer, o seu fabricante era sim uma empresa familiar, que produzia aviões experimentalmente, aviões simples que foram responsáveis em grande medida pela riqueza da America do Norte.

Mas nós os países subdeseenvolvidos temos que nos submeter e curvar impedidos de desenvolver a nossa aviação, exceto se nossos projetos estiverem sob coordenação e financiamento de grandes trustes aéro industriais, ou bancários.

No nosso blog "maquinasqueeugosto" estarei introduzindo e defendendo novas perspectivas de uso da aviação experimental, também chamada aviação de uso restrito, como uma ferramenta de desenvolvimento agro pecuário num primeiro momento, mas orientada para o desenvolvimento de nossa aviação geral.

Somos os pais da aviação, mas agimos como se isso fosse uma mentira histórica, como se isso não pudesse ter acontecido no passado nem possa vir a acontecer no futuro. A aviação que o Brasil precisa, para agilizar o transporte, a agricultura, a pecuária, o controle ambiental, não é a dos grandes Jatos bilionários, mas dos pequenos aviões e helicópteros, dos planadores e autogiros, que formem pilotos, criem a mentalidade aeronáutica, que dê visão de conjunto aos brasileiros sobre o seu solo pátrio.

Como pode uma indústria de aviões como a do Engenheiro Boscardim se arrastar por trinta longos anos frustrando projetos que seriam uteis a todos os brasileiros. Como pode ter sumido do cenário industrial brasileiro inúmeras iniciativas que produziram e voaram, e muitos, se não a maioria de nosso pilotos foram formado nesses pequenos aviões como o Paulistinha, o Neiva, Piper Cub, O CAP 4 que eram aviões de lona e tubos metálicos e um motor confiável e primário. Como pode o Brasil deixar escapar o Motor Brasil, o primeiro motor aeronáutico Brasileiro construído na fabrica de Carruagens do Exercito? Eram tão modernos como os Continentais, Franklin, etc. Passam os anos e os brasileiros não acordam para este problema. A China, a Índia, o Paquistão, produzem turbinas civis e militares. Nos EUA construtores experimentais produzem turbinas aeronáuticas em fundo de quintal, e nós o povo "pai" da aviação não ousamos, e não deixamos ninguém ousar por uma legislação criminosa, castradora e frustrante da construção, desenvolvimento e uso de aeronaves nacionais.

A IPE desenvolveu um avião agrícola... A legislação e o sistema a frustrou. A Universidade Tuiuti desenvolveu um avião agrícola de baixo custo... A legislação a frustrou. Assim milhares de talentos morrem na casca. Não há interesse em financiá-los porque seus produtos finais não podem ser comercializados. Então eles desesperados, lutam ou nas ilegalidades ou nos vazios da lei, para num sonho de teimosia e perseverança realizarem a sua paixão, a vocação de voar e fazer voar.

Vivemos em um país de dimensões continentais. Pensamos como se vivêssemos em uma ilha isolada e sem recurso naturais, intelectuais e criatividade, vemos os fatos de fora para dentro, frustramos os nossos jovens e lhes castramos os sonhos, depois hipocritamente lhes criticamos a agressividade bestial. Matamos o homem cheio de vôo que vive em seu peito e depois o acusamos de ser inútil, viciado, sem alma, sem amor.

Deixem o filho de o fazendeiro construir seu avião. Deixem o Brasil experimentar o vôo.

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